"O Mundo acorda e adormece sem que ninguém o embale.


Ainda assim, estou disposta a oferecer-lhe a minha canção."




quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cheguei ao aeroporto de Munique, sentei-me confortavelmente, liguei o portátil e preparei-me para dar alguma utilidade às 7 horas que se perspectivavam até ao boarding do vôo para Lisboa. Estava cansada. Cansada da viagem que já tinha feito, a partir de um País que ninguém quer visitar. Cansada de estar acompanhada quase 24 horas por dia ( na realidade pouco faltava pois pouco era o tempo que sobrava para dormir), sem que o meio sorriso pudesse desaparecer do meu rosto. Cansada de dormir numa cama que não era a minha, num quarto que não era o meu. Cansada do frio que me entrava pela alma. Mas com a sensação do dever cumprido. Tinha conseguido um bom negócio para o meu País, para além do mais respeitando a vontade e integridade daquele povo ancestral que tanto sofreu nas últimas décadas e que afinal me fizeram descobrir que entre eles e nós é muito mais o que nos une que aquilo que nos separa.

Resolvi ir dar uma volta pelo aeroporto antes de começar a escrever os inúmeros documentos a quem todos, a começar por mim, atribuem a urgência, e a pressa, do costume. Tornei a fechar tudo.

Vi as tabuletas para os transportes de ligação à cidade. Fui observar de perto. Primeiro com o interesse de especialista. A bilhética, as máquinas de venda, o sistema de informação ao público, a descrição da rede, enfim, tudo observei com aquele sentido crítico que há muito rotulei de deformação profissional.

Mas de repente senti que já merecia "sair de serviço", afinal tinham sido 4 dias seguidos. Claro que ninguém tem a culpa que eu, como é meu costume, quisesse utilizar o fim-de-semana prolongado, para os outros, para ir trabalhar sem que a viagem penalizasse o trabalho no País.

Mas estava na hora de arejar, de fugir ao espartilho. Comprei bilhete de ida e volta para a Cidade, com a ajuda de uma funcionária (não me apeteceu ser a especialista que consegue "ler" todo e qualquer sistema). Apanhei o comboio e parti para a Cidade com um sorriso do tamanho do Mundo.

Que bela sensação. Pessoas comuns que, não fora a língua, a altura e a coloração, bem podiam ser portuguesas. As grandes potências reduzidas à sua dimensão humana numa viagem de comboio, atravessando bairros suburbanos com quintais guardiões de tarecos que constam, internacionalmente, na lista dos haveres de qualquer família de classe média baixa. A amabilidade e hospitalidade da mãe de família que me explicou o porquê de duas linhas alternativas de ligação à Cidade, demorando uma 20 outra 40 min, e me aconselhou vivamente o mercado de Natal onde se podem comprar verdadeiras pechinchas para decorar a casa e oferecer a toda a família.

Bem mandada que eu sou. Lá fui eu para a Marienplatz. Deslumbrante. Tão diferente da praça semi-solarenga doutras histórias, doutras estações do ano, doutras vidas?

A alegria, as luzes, a vida, as pechinchas (?)... Tudo tão simples. Tudo tão a apetecer viver simplesmente o sabor de cada momento. E rir. Voltar a rir de forma cristalina. E ri.

E "engoli" uma horrorosamente alcoólica e quente bebida, na rua, para ficar com a chávena espectacular que exibo lá em casa, qual troféu. E não comprei as pechinchas. E namorei umas botas numa montra de uma loja já no regresso ao aeroporto. E voltei a rir quando escolhi o elevador da esquerda para voltar à sala de onde tinha partido umas horas antes.