Os adoradores do pensamento único mudam frequentemente de musa mas nunca de método. A partir da unção da nova verdade universal há que papaguear o dogma e condenar à marginalidade tolerada ou reprimida toda a heresia. Foi assim com outras explicações globais.
Está a ser assim com esta ideia de que a resposta à crise do capitalismo especulativo, ao ataque ao euro e projeto europeu e às debilidades estruturais da sociedade portuguesa tem uma resposta única de curto prazo que é dada não pela política, nem pela filosofia das ideias, muito menos pela engenharia mas sim por esse conjunto de magos designados por "os economistas". O argumento é perigoso. Pretende iludir a existência de respostas plurais à crise e tem uma dimensão messiânica que conhecemos durante décadas. Segundo a tese, políticos impulsivos e pouco preparados como Sócrates e Passos Coelho têm de ceder à prudente sageza dos sábios das finanças públicas com currículo académico e limpos da poeira da política, mesmo quando não fizeram outra coisa na maior parte da vida adulta.
Infelizmente, a teimosa e imperfeita realidade insiste em estragar prateleiras de teoria económica e previsões. Se há lição da crise das economias desenvolvidas 2008-2010 é a do escândalo da especulação e regresso do Estado para salvar todos, até os culpados, da implosão do sistema financeiro internacional. Não vi "os economistas" antecipar fraude do subprime e crise da Banca americana e europeia em 2008, não tenho memória de crítica aos apoios à Banca, empresas e famílias, que levaram a défices superiores a 10% no Reino Unido ou Espanha em 2009, nem vi previsão da anemia dos mercados interbancários ou crise da dívida soberana em 2010.
O PSD, dirigido por meninos medrosos escondidos atrás das pitonisas da desgraça, levou meses a falar da destruição das políticas públicas (escola para todos, saúde e proteção social) e na redução da despesa pública. No momento da verdade, perante um orçamento inevitável, ainda que injusto para os portugueses e potencialmente recessivo, nada mais fez do que promover um rombo de 500 milhões na receita, reduzir a equidade fiscal protegendo os que ganham cinco mil euros mensais e tentar travar a ferrovia moderna e os novos hospitais de Lisboa e Faro. A proposta de orçamento não ficou melhor, a boa notícia é que será aprovada e veremos quem é capaz de liderar a construção da agenda do futuro e do modelo de desenvolvimento, a qual vai muito para além do défice e dos cálculos eleitorais a prazo de seis meses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário