"O Mundo acorda e adormece sem que ninguém o embale.


Ainda assim, estou disposta a oferecer-lhe a minha canção."




terça-feira, 19 de outubro de 2010

Coragem em tempo de crise - Eduardo Cabrita - Setúbal na Rede

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Coragem em tempo de crise - Eduardo Cabrita - Setúbal na Rede


O Orçamento do Estado apresentado sexta-feira é o documento que incorpora as opções mais dramáticas de política económica a tomar em Portugal desde que aderimos à então CEE pela mão de Mário Soares.
Foi importante para Portugal fazer parte do núcleo fundador do euro mas tal obriga-nos a partilhar das opções tomadas num espaço monetário unificado. As instituições financeiras de raiz anglo-saxónica sempre olharam com desconfiança para o euro e o Reino Unido nunca admitiu abdicar da sua libra.
A crise de 2008, a maior das economias desenvolvidas desde 1929, resultou do desvario da especulação financeira e imobiliária e obrigou os Estados a intervir para evitar o colapso das economias perante o desabar dos mercados de capitais. Na Europa todos os países ultrapassaram o défice de 3% e a Holanda, a Irlanda ou o Reino Unido tiveram de nacionalizar bancos.
Em 2010, uma nova vaga de irracionalidade dos mercados de capitais veio pôr em causa as emissões de dívida dos Estados a partir do risco de incumprimento de pagamentos pela Grécia ,sendo que a sra.Merkel levou três meses a reconhecer que tal colocaria em causa toda a zona euro, pelo que teria de ter uma resposta global. O défice português de 2009, após 2 anos abaixo dos 3%,resultou do efeito conjugado da queda brusca das receitas fiscais (cerca de 15%), do aumento das despesas sociais em resultado do aumento do desemprego e das medidas de apoio às famílias e às empresas.
A autocracia dos mercados levou para níveis incomportáveis os juros da dívida pública e pôs em causa o financiamento das empresas obrigando Portugal a um ritmo acelerado de consolidação orçamental que nos obriga a ter em 2011 um défice de 4.6%, claramente inferior ao de Espanha ou de França ,para descolar de países à beira do colapso como a Grécia ou a Irlanda.
 O que está em causa no OE/2011 é readquirir com a máxima urgência a autoridade para definir políticas em que a salvaguarda do modelo social assente na igualdade de oportunidades no acesso à educação e à saúde e no papel do investimento público na dinamização da economia sejam assumidos como prioridades.
O relançamento da economia portuguesa dependerá da dinâmica das exportações.A AutoEuropa , maior empresa exportadora do País ,e os portos de Sines e de Setúbal são decisivos para a retoma económica.
Já todos perceberam que a via da direita passa pelo desmantelamento da escola pública universal e gratuita e pela fragilização do SNS. Igualmente da aprovação do orçamento depende a centralidade dada à região pela terceira travessia do Tejo, não queremos   a alta velocidade só no Poçeirão ,e pela  ligação ferroviária para mercadorias entre Sines e o hinterland  ibérico. Ambos os projetos são expressamente assumidos pelo OE/2011 e a sua não aprovação poderia compromete-los irreversivelmente.
É por isso que forças com implantação na região como o PCP e o Bloco devem ser confrontados com a sua responsabilidade política. Não basta associar-se ao Governo  na abertura de escolas ou de creches e cantar hinos à Terceira Travessia do Tejo, têm o dever de contribuir utilmente para uma governação progressista do PS e evitar as derivas monetaristas e  antisociais  hoje largamente disseminadas nos nossos parceiros europeus.
Sem orçamento aprovado teríamos uma crise política até meio de2011 e um trágico agravamento da crise financeira com a inevitável sujeição a níveis  de juros irlandeses ou gregos.
Estamos em hora de consciência   dos sacrifícios e da determinação necessária a virar a página da crise financeira, é preciso não iludir as opções inevitáveis e a fazer as opções urgentes pela estabilidade política e credibilidade económica.

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