Escrevo no desconhecimento do resultado das conversações Teixeira dos Santos-Catroga sobre o OE/2011. As negociações são um teste à capacidade de fazer prevalecer a maturidade democrática sobre a pulsão suicidária do calculismo político. O Eurostat confirmou esta semana o défice português de 9,3% em 2009. A Grécia, a Irlanda, o Reino Unido e a Espanha ultrapassaram largamente os 10% e a nossa dívida pública é superada pela de Itália, Bélgica ou França.
O ‘Financial Times’, num artigo ignorado pela imprensa portuguesa , disse que Portugal tem razões para se sentir magoado pelas comparações com a fraude das estatísticas gregas ou com a Irlanda afogada pelo desvario da especulação financeira. O nosso problema central é a dificuldade política em criar condições para que os deuses sem rosto dos mercados acreditem na nossa capacidade para pôr as contas em ordem.
O OE/2011 assenta num ritmo, até 2012, e intensidade da consolidação orçamental injustamente inevitáveis para a economia portuguesa, pelos seus efeitos recessivos. Mas mostrar agora incerteza quanto à capacidade de cumprir os compromissos assumidos seria desastroso para as famílias e provocaria a asfixia financeira em cadeia das empresas. Os juros poderiam atingir os dois dígitos e a crise política deixaria o mitificado FMI sem interlocutor. Suspeito de que chegaríamos em estado de tragédia grega à irresponsável Primavera eleitoral.
Todos os parceiros têm a aprender. O Governo com o exemplo de Zapatero, que aprovou o 7º orçamento sem maioria absoluta e não hesitou em denunciar a ortodoxia monetarista prevalecente na direita europeia e no BCE. O PSD após um Verão errático aterrou no Outono da economia real. Não deixa de ser curiosa a facilidade com que uma retórica do corte na despesa pública e do crescimento se esboroa em propostas/condições que arruínam a receita e deprimem ainda mais a economia na guerra santa pacóvia contra a ferrovia moderna que nos faria perder dois mil milhões de fundos europeus e colocaria a ligação à rede europeia em Badajoz.
Mas agora é urgente mesmo um mau acordo, porque não teremos hipótese de boa demanda eleitoral sem fazer a consolidação orçamental. Mas neste debate orçamental o prémio ovelha negra cabe ao juiz Martins pelas incríveis declarações que envergonham a sua classe no momento em que os portugueses demonstram serenidade face aos sacrifícios que lhes são exigidos. Já sabíamos que a justiça não é do nosso tempo, mas sabemos que os juízes não são marcianos como o sr. Martins.
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