Devíamos estar agora a construir consensos sobre o Portugal de 2020. A definir as prioridades do modelo produtivo, as soluções para os investimentos estruturantes, os níveis de despesa social, os objetivos na educação e na saúde e a reorganizar de vez o Estado dando racionalidade à administração central e a coerência territorial prevista no PRACE. Mas estamos a navegar à vista na ressaca da maior crise global do capitalismo financeiro. Os mercados foram salvos em 2008 pelo odiado Estado que tomou no regaço bancos perdidos dos EUA à Islândia.
A crise dos anos 30 do século passado teve como resposta os autoritarismos nacionalistas e acabou na guerra mundial de 1939-45. Até ver, o custo vale a pena desde que repartido com justiça. Os mercados financeiros são pretensos deuses sem rosto, mais ingratos que escorpião, que se movem por causas ‘nobres’ como a remuneração dos acionistas ou a obtenção de prémios de gestão sem vergonha. A visão estratégica do analista de mercados não vai além das variações do PSI 20. É por isso natural ver um coro de entusiastas de economia do mar de estrategas de pacotilha que há dez anos chamavam megalómano ao projeto do porto de Sines e agora querem parar todo o investimento público. Sem ligação à rede ferroviária europeia de alta velocidade e sem linha para mercadorias entre Sines e o mercado ibérico não seremos competitivos nem como economia de praia...
A sra. Merkel levou três meses a perceber que a resposta à crise grega era a prova de vida do euro e ontem discordou da benevolência do FMI para com Atenas. É neste quadro que Portugal deve mostrar convicção na rápida recuperação do espaço negocial que nos permita dizer que a Europa do PEC é do crescimento e não só da ortodoxia da estabilidade. Será injusto, comparando com a tolerância com o casino irlandês, mas temos de mostrar capacidade de consolidação orçamental em 2011 para ter voz para contrariar o endeusamento de mitos sem racionalidade, como os 3% de défice que todos os países do euro violaram em 2009. Neste contexto, com a dívida pública a custar mais de 6% de juros, as análises de intriga partidária sobre quem teria vantagens políticas no chumbo do orçamento e em eleições nunca antes de Maio com orçamento lá para Outubro de 2011 é como jogar à cabra-cega à beira de uma arriba instável. Não sei quem seria primeiro-ministro a meio de 2011, mas não interessa muito, seria o gestor liquidatário dos destroços de um país sem rumo nem voz em tempo de tempestade.
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