"O Mundo acorda e adormece sem que ninguém o embale.


Ainda assim, estou disposta a oferecer-lhe a minha canção."




quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Injustiça inevitável - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

 

Injustiça inevitável - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


No final do século passado, políticos com a grandeza de Mitterrand e de Kohl e uma Comissão liderada pelo visionário Delors decidiram criar o euro para dar uma dimensão global à economia europeia e incentivar a integração política. Os mercados financeiros, a imprensa anglo-saxã, a sra. Thatcher e os velhos do Restelo europeus não acreditavam que fosse possível abandonar o marco ou o franco nem que a nova moeda durasse mais do que um ano, dada a disparidade entre as economias e as reservas nacionais.
Para dar confiança aos mercados, foram criadas as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Por um lado, limites comuns para o défice público (3%), a dívida pública (60%) e a inflação (2%), por outro, fundos de coesão, para apoiar o desenvolvimento dos países mais pobres. A violação dos critérios seria aceite em caso de crise económica ou necessidade de acelerar o crescimento. Os analistas não acreditavam que Portugal fosse aceite no euro mas Guterres e Sousa Franco conseguiram, sem as dívidas superiores ao PIB, como na Bélgica ou na Itália, ou à pouca credibilidade das contas gregas.
Até 2008, o euro foi um sucesso global, rivalizando com o dólar. A crise originada pela especulação financeira e imobiliária provocou, pela primeira vez, um desequilíbrio simultâneo em todos os países do euro. A causa foi a limitação dos efeitos da crise e a salvação do sistema financeiro, até com nacionalizações de bancos na Irlanda, Holanda ou Reino Unido. A atual Europa é liderada por uma maioria de governos liberais ou conservadores dependentes de públicos desconfiados do projeto europeu ou apoiados por partidos de extrema-direita antieuropeia. O Tratado de Lisboa está a ser corporizado por figuras medíocres como Rompuy ou Ashton e assistimos à vingança dos mercados, que nunca quiseram nem euro, nem União Europeia. Portugal precisa de Estabilidade financeira e Crescimento. Seria desejável uma redução suave do défice até 2014, com investimento público e crescimento. Não aldrabamos as contas como a direita grega fez nem temos um défice de 32% para salvar bancos falidos como o ex-modelo irlandês - mas sem nós a expressão PIGS não fazia sentido na imprensa paga em dólares ou libras...
Teixeira dos Santos provou ser capaz em 2007/08. Temos de provar em 2011 estar à altura destas medidas injustas e potencialmente recessivas para recuperarmos o caminho da Europa da coesão e do desenvolvimento livre de visões de curto prazo de uma chanceler menor criada na ex-RDA.



Nenhum comentário: