"O Mundo acorda e adormece sem que ninguém o embale.


Ainda assim, estou disposta a oferecer-lhe a minha canção."




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O falso herdeiro - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

O falso herdeiro - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


Sá Carneiro foi um contraditório herói da minha adolescência. Rompeu com o destino fácil de um advogado instalado do Norte por amor à liberdade. Esteve na Assembleia de Marcelo Caetano a defender eleições livres e liberdade de imprensa até provar que não havia emenda para o final cinzento da Primavera traída.

Continuou o combate no ‘Expresso’, o primeiro jornal moderno português, que custava 3$50 e que eu ia comprar com excitação para ler o ‘Visto’ quando a censura não o cortava. Esteve no Portugal de Abril a defender, ao lado de Soares, a rápida consolidação democrática, assumia como referências Olof Palme e Willy Brandt e o jornal da sua JSD chamava-se ‘Pe-lo Socialismo’. Ainda recordo, tinha 14 anos, a tensão emocionada de estar com o meu pai na manifestação do Terreiro do Paço de Novembro de 1975 com Soares e Sá Carneiro de apoio à democracia. No final houve granadas de fumo para gerar confusão, mas o "povo foi sereno" e optou pela democracia e pela Europa. Sinto inconscientemente que decidi nesse tempo grande parte do que fiz nos 35 anos seguintes, como não desistir de intervir e dizer o que penso contra as habituais cobardias pragmáticas de vistas curtas.

Sá Carneiro esteve na política e vida por paixão. Por um Portugal cosmopolita e com sentido de risco. Esteve por Snu como esteve pela liberdade. Era um burguês culto com a paixão pelas artes num tempo de mentes luminosas entre a bonomia determinada de Soares e o olhar metálico de Cunhal, mito estalinista filho da burguesia adotado pelo proletariado. Sá Carneiro disse não ao Portugal medíocre, humilde e cinzento do respeitinho pelos poderes e verdades instaladas. Perdeu-se a hipótese de um bloco social que rompesse com o Portugal conservador que nada fez por Abril e com a AD o socialismo democrático passou a contar só com Soares, Zenha e Sampaio. A sua morte deixou mito e enorme vazio. A direita de Cavaco é tudo o que Sá Carneiro não foi.

Cavaco foi um obscuro economista provinciano integrado sem angústias na velha ordem, que estudou em Inglaterra sem ser tocado pelo fruto proibido da liberdade. Uma das tragédias da ausência de Sá Carneiro é o regresso do espírito da direita medíocre com vergonha da política como se a democracia fosse um mal menor. A reeleição de Cavaco, quase sem debates nem campanha, é a ameaça do Presidente pai austero sobre a rapaziada dos partidos. Sá Carneiro era amigo de Natália Correia, Cavaco nem sabia quantos cantos tem ‘Os Lusíadas’...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Escuteiro e a Velhinha


Tenho um grande amigo de quem ao longo de quase vinte anos ouvi as versões mais hilariantes das historinhas da conversa comum. Uma delas é a do Escuteiro e da Velhinha.

Estava a Velhinha aflita, junto a uma passadeira, mas não conseguia atravessar a rua pois nenhum carro parava. O Escuteiro, solicito, aproxima-se, pega-lhe no braço, faz sinal aos carros para pararem e começa a ajudar a Velhinha a atravessar a rua. Eis senão quando a Velhinha saca do chapéu-de-chuva e começa a bater no Escuteiro, chamando-lhe "Energúmeno!" e dizendo-lhe "Que vergonha a pôr a mão em cima de uma Senhora e obrigando-a a atravessar a rua!".

Pois, o Escuteiro não se terá assustado, mas terá ficado no mínimo estupefacto!

Ontem lembrei-me desta história a propósito da posição do Grupo Parlamentar do Partido Socialista sobre a tributação imediata de distribuição de dividendos, antecipando, um mês, a medida que o Governo corajosamente introduziu no Orçamento de Estado para 2011. 

  

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fado Negro - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




Há uma dimensão trágica de fado em ré menor na forma como os comentadores concorrem com um brilho nos olhos e esgar de prazer ao enunciar as dificuldades que vive a economia portuguesa. É ainda mais soturno o tom quando, em vez de pedir rigor na execução do ainda fresco Orçamento, se deliciam na volúpia da antevisão das ainda mais terríveis provações que será necessário vir a adotar.

A metáfora de soap opera sobre grupo de auto-ajuda é óbvia quando a mesa redonda é formada por ex-ministros das Finanças ou ex-governadores do Banco de Portugal. Foi assim com a divulgação das previsões de Outono da Comissão Europeia e com o pacote de ajuda à Irlanda. A CE veio dar o braço a torcer face à incapacidade de previsão no final de 2010. Então o crescimento seria quase nulo para Portugal e nem dedicava uma linha a potenciais dificuldades com a dívida soberana. O apoio dos Estados às economias era elogiado discutindo-se a evolução suave das contas de modo a não afogar a incipiente retoma.

Com a Irlanda, ícone do liberalismo desregulado que se queimou na fogueira das vaidades de tornar uma economia semirrural numa praça financeira global, sucedem-se as justificações de inocência das políticas de direita perante as travessuras ingénuas dos bancos agora falidos. Em Portugal, pelo contrário, tudo é responsabilidade do Estado, até a crise global. O principal ativo de Sócrates são os resultados obtidos entre 2005 e 2008 e a superação das expetativas em 2010. O Governo Sócrates I teve os mais baixos défices em democracia, o maior crescimento da década em 2007, inovou na energia, eliminou burocracias, apostou na escola pública a tempo inteiro e reformou a segurança social e as finanças locais. Em 2010 o crescimento será o quádruplo do previsto pela Comissão Europeia e as exportações superam a antevisão dos magos economistas.

A questão central é explicar para que servem os sacrifícios do Orçamento, provar que não existem hesitações em matéria de equidade e liderar o diálogo social percebendo os sinais do grito de alma que foi a greve. Um discurso de vistas curtas reduzido à mera subordinação acrítica à ditadura sem rosto dos mercados não mobiliza ninguém para os desafios reais do crescimento e de mais e melhor emprego num ambiente inovador e competitivo. Passos Coelho já se rendeu a ser parceiro menor do FMI, cabe a Sócrates nas próximas semanas mostrar liderança da agenda, mensagem mobilizadora e alma e nervos para enfrentar as tentações dos poderes ocultos.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres - 25 de Novembro





Em 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) designou oficialmente 25 de Novembro como Dia Internacional pela Eliminação da Violência  contra as Mulheres.

A Assembleia da República, sob proposta da Subcomissão de Igualdade da Comissão da Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, assinala este dia com a instalação de uma tela evocativa, sob o lema “NÃO à violência contra as Mulheres”, no Palácio de S. Bento, na qual, durante a manhã, os Deputados podem deixar impressas, com tinta, as palmas das suas mãos e as suas assinaturas, num gesto simbólico de apoio a esta causa.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Rigor ou martírio? - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




Aprovado o Orçamento, prossegue um estranho coro de declarações de políticos irresponsáveis e de economistas masoquistas que se dedicam a um sinistro euromilhões da desgraça a tentar adivinhar, uns quando haverá queda do Governo com inerente crise política e outros o dia da "bancarrota" com entrada triunfante do FMI.

É bizarro que a sede de poder imediato da imatura gerência do PSD tenha aproveitado o momento da aprovação do Orçamento, para a qual contribuíram com a bênção de sondagens e comentadores, para vir falar da morte pré-anunciada do Governo ou da vergonha de Sócrates ter de ser demitido. Tiveram de ser a tutela distante de Cavaco e o semblante carregado de Ferreira Leite a moderar a rapaziada. É ainda mais surreal a saga dos economistas, cujas previsões desde 2008 ficam aquém das dos astrólogos, a impor uma ortodoxia do necessário martírio sob tutela do FMI. Os próximos anos serão difíceis, mas face ao soçobrar do mítico tigre celta, velha referência da direita liberal pelos níveis de desregulação e pelo choque fiscal, até o sr. Rompuy e a sra. Merkel vieram dizer que estamos perante a mais grave crise do euro e que sem euro seria o fim do sonho de União Europeia.

Nesta orgia depressiva, vale a pena lembrar quatro indicadores dos últimos dias desvalorizados pelos tarados do suplício sem horizonte. Numa visão de longo prazo, a ONU confirmou que somos um dos 42 países com Muito Alto Nível de Desenvolvimento Humano. As causas têm que ver com a esperança de vida, que aumentou 8 anos desde 1980 (SNS em acção), a escolaridade média, que passou de 4.8 para 8 anos (a tal escola para todos). Somos o 23º país em matéria de igualdade de género, mas temos de melhorar na repartição do rendimento. O Banco Mundial deu-nos o 31º lugar como destino de negócios, à frente da Itália e Espanha. Não é acaso, o tempo para constituir uma empresa passou de 78 dias em 2005 para 6 dias em 2010, é Simplex…

A economia no 3º trimestre cresceu 1,5% relativamente a 2009. É o dobro da previsão prudente do OE 2010 e surpreendeu todos os analistas da desgraça… Finalmente, o crescimento deveu-se ao aumento das exportações em quase 15%. Talvez seja já tempo de corrigir o discurso derrotista sobre competitividade. São, por isso, lamentáveis as declarações de Cavaco e de Carlos Costa de adoração dos mercados… Até Silva Peneda e Ricardo Salgado já deram o grito de revolta... Só faz falta um Governo coeso a liderar a agenda inevitavelmente de rigor, mas também de esperança e crescimento.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Império contra-ataca - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




Aprovado o Orçamento, com as dores de parto de um défice democrático com tiques autoritários que confunde negociação transparente com fraqueza e falta de virilidade política, é tempo de voltar aos desafios reais e voltar a colocar no centro da agenda as visões alternativas para o nosso modelo de desenvolvimento.

A incapacidade de explicação dos dois últimos anos de crise dos países mais desenvolvidos, diria crise do capitalismo de especulação financeira e imobiliária, com base na cartilha monetarista das últimas décadas tem provocado um movimento, tanto em Portugal como em toda a Europa, que face à incapacidade de encontrar respostas mobilizadoras tenta impor um pensamento único sem legitimidade democrática. O Orçamento português é tão inevitável quanto injusto e recessivo (défice inferior ao de Espanha, França ou Reino Unido em 2011) para uma pequena economia periférica.

As declarações da sra. Merkel no Conselho Europeu acentuaram, pelo seu chauvinismo germanocêntrico, a pressão sobre o tigre ferido irlandês, Espanha e Portugal. A possibilidade de aplicação de sanções a países salvo se existir uma maioria qualificada negativa representa a capitulação dos governos eleitos perante a ortodoxia sem rosto do eixo Bruxelas-Frankfurt. Cada vez mais, o que está em causa é a sobrevivência do projeto europeu perante o regresso de equilíbrios neo-imperiais pré-I Guerra Mundial. A degenerescência da frontalidade do combate político parece conduzir perigosamente a um primado gelatinoso do modelo "Homem sem Qualidades". (Onde estão perdidos os filhos de Delors, Khol ou Willy Brandt?)

É por isso também que, neste quadro de nevoeiro europeu, as eleições presidenciais de Janeiro assumem uma importância que vai muito para lá da rotineira reeleição do mais apagado presidente da nossa democracia. Cavaco Silva é o decano dos políticos, no ativo desde 1979, cultivando a mitologia do professor de finanças acima da política (vide a lenda da rodagem do carro). A crise económica e a manifesta turbulência e impreparação da liderança do PSD e a inconsistência política de largos setores do Governo Sócrates II dão espaço para um discurso perigoso de releitura tutelar dos poderes do Presidente-Economista. A reeleição aclamatória do antipolítico é uma perigosa ameaça à maturidade do sistema político. Os que sonham com a centralidade política do Palácio de Belém estão para além da revisão constitucional do PSD, desejam uma rutura constitucional disfarçada de eleição presidencial.



quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ilusão dos Economistas - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




Os adoradores do pensamento único mudam frequentemente de musa mas nunca de método. A partir da unção da nova verdade universal há que papaguear o dogma e condenar à marginalidade tolerada ou reprimida toda a heresia. Foi assim com outras explicações globais.

Está a ser assim com esta ideia de que a resposta à crise do capitalismo especulativo, ao ataque ao euro e projeto europeu e às debilidades estruturais da sociedade portuguesa tem uma resposta única de curto prazo que é dada não pela política, nem pela filosofia das ideias, muito menos pela engenharia mas sim por esse conjunto de magos designados por "os economistas". O argumento é perigoso. Pretende iludir a existência de respostas plurais à crise e tem uma dimensão messiânica que conhecemos durante décadas. Segundo a tese, políticos impulsivos e pouco preparados como Sócrates e Passos Coelho têm de ceder à prudente sageza dos sábios das finanças públicas com currículo académico e limpos da poeira da política, mesmo quando não fizeram outra coisa na maior parte da vida adulta.

Infelizmente, a teimosa e imperfeita realidade insiste em estragar prateleiras de teoria económica e previsões. Se há lição da crise das economias desenvolvidas 2008-2010 é a do escândalo da especulação e regresso do Estado para salvar todos, até os culpados, da implosão do sistema financeiro internacional. Não vi "os economistas" antecipar fraude do subprime e crise da Banca americana e europeia em 2008, não tenho memória de crítica aos apoios à Banca, empresas e famílias, que levaram a défices superiores a 10% no Reino Unido ou Espanha em 2009, nem vi previsão da anemia dos mercados interbancários ou crise da dívida soberana em 2010.

O PSD, dirigido por meninos medrosos escondidos atrás das pitonisas da desgraça, levou meses a falar da destruição das políticas públicas (escola para todos, saúde e proteção social) e na redução da despesa pública. No momento da verdade, perante um orçamento inevitável, ainda que injusto para os portugueses e potencialmente recessivo, nada mais fez do que promover um rombo de 500 milhões na receita, reduzir a equidade fiscal protegendo os que ganham cinco mil euros mensais e tentar travar a ferrovia moderna e os novos hospitais de Lisboa e Faro. A proposta de orçamento não ficou melhor, a boa notícia é que será aprovada e veremos quem é capaz de liderar a construção da agenda do futuro e do modelo de desenvolvimento, a qual vai muito para além do défice e dos cálculos eleitorais a prazo de seis meses.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

AR - Debate OE2011 - Intervenção de Eduardo Cabrita





Esclarecimento


Caros Camaradas Deputados

Face às notícias recentemente publicadas relativas ao chamado processo “Face Oculta”, entendo dever, na rigorosa distinção entre os espaços da Política e da Justiça, prestar os seguintes esclarecimentos enquanto dirigente nacional do PS e deputada à Assembleia da República:
1.  Prestei declarações por escrito no âmbito do processo referido a solicitação do Ministério Público da Comarca do Baixo Vouga e na sequência da autorização concedida pela Assembleia da República.
Considero por isso lamentável a grave violação do segredo de justiça resultante da publicação de excertos truncados das minhas declarações antes da dedução da acusação, bem como, após a mesma, versões romanceadas dos factos como as referências ao impacto da minha pretensa deslocação a Aveiro, a qual nunca ocorreu.
2.  Respondi com todo o rigor e consciência às questões colocadas sobre factos em que participei ou de que tive conhecimento sendo evidente para os que me conhecem que nunca me considerei pressionada por ninguém e sempre agi e tomei decisões no estrito dever de defesa do interesse público e da legalidade.
3.  No exercício de funções governativas nunca esqueci o facto de ser militante e membro do Secretariado Nacional do PS, que integro desde Outubro de 2004 por convite do Secretário-Geral José Sócrates.
Sempre afirmei que o facto de ser membro do Secretariado Nacional do PS me dava preocupações acrescidas de seriedade e que estava farta que os partidos tivessem as costas largas. Por isso, com a legitimidade de quem é dirigente nacional do partido, sempre disse que não admitia referências abusivas a alegados interesses do PS por parte de quem quer que fosse, muito menos por parte de quem não tem legitimidade para o fazer.
São estes os princípios que sempre defendi e que adopto reiteradamente desde que em Novembro de 2009 passei a integrar a Comissão de Gestão do PS por designação do Secretário-Geral.
4.  A defesa do Estado de Direito e da ética republicana estarão sempre na base do meu dever de colaboração com a Justiça no estrito respeito pela separação de poderes que a todos obriga sejam operadores judiciários, responsáveis políticos ou profissionais da comunicação social pelo que rejeito veementemente quaisquer especulações políticas feitas com base em peças processuais cujo teor desconheço.

1 de Novembro de 2010
Ana Paula Vitorino
Deputada à Assembleia da República
Membro do Secretariado Nacional do Partido Socialista

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Por um mau acordo - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

Por um mau acordo - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


Escrevo no desconhecimento do resultado das conversações Teixeira dos Santos-Catroga sobre o OE/2011. As negociações são um teste à capacidade de fazer prevalecer a maturidade democrática sobre a pulsão suicidária do calculismo político. O Eurostat confirmou esta semana o défice português de 9,3% em 2009. A Grécia, a Irlanda, o Reino Unido e a Espanha ultrapassaram largamente os 10% e a nossa dívida pública é superada pela de Itália, Bélgica ou França.

O ‘Financial Times’, num artigo ignorado pela imprensa portuguesa , disse que Portugal tem razões para se sentir magoado pelas comparações com a fraude das estatísticas gregas ou com a Irlanda afogada pelo desvario da especulação financeira. O nosso problema central é a dificuldade política em criar condições para que os deuses sem rosto dos mercados acreditem na nossa capacidade para pôr as contas em ordem.

O OE/2011 assenta num ritmo, até 2012, e intensidade da consolidação orçamental injustamente inevitáveis para a economia portuguesa, pelos seus efeitos recessivos. Mas mostrar agora incerteza quanto à capacidade de cumprir os compromissos assumidos seria desastroso para as famílias e provocaria a asfixia financeira em cadeia das empresas. Os juros poderiam atingir os dois dígitos e a crise política deixaria o mitificado FMI sem interlocutor. Suspeito de que chegaríamos em estado de tragédia grega à irresponsável Primavera eleitoral.

Todos os parceiros têm a aprender. O Governo com o exemplo de Zapatero, que aprovou o 7º orçamento sem maioria absoluta e não hesitou em denunciar a ortodoxia monetarista prevalecente na direita europeia e no BCE. O PSD após um Verão errático aterrou no Outono da economia real. Não deixa de ser curiosa a facilidade com que uma retórica do corte na despesa pública e do crescimento se esboroa em propostas/condições que arruínam a receita e deprimem ainda mais a economia na guerra santa pacóvia contra a ferrovia moderna que nos faria perder dois mil milhões de fundos europeus e colocaria a ligação à rede europeia em Badajoz.

Mas agora é urgente mesmo um mau acordo, porque não teremos hipótese de boa demanda eleitoral sem fazer a consolidação orçamental. Mas neste debate orçamental o prémio ovelha negra cabe ao juiz Martins pelas incríveis declarações que envergonham a sua classe no momento em que os portugueses demonstram serenidade face aos sacrifícios que lhes são exigidos. Já sabíamos que a justiça não é do nosso tempo, mas sabemos que os juízes não são marcianos como o sr. Martins.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

EconómicoTV - Conselho Consultivo - 19.10.2010





(João Galamba, Manuel José Damásio, Francisco Proença de Carvalho)

Viabilizar o futuro - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




A proposta de OE para 2011, com a sua panóplia de medidas destinadas a dar sinais de tranquilidade aos príncipes dos mercados, cumpriu já a sua primeira função. Gerou um consenso nos analistas sobre a indispensabilidade da aprovação do orçamento e provocou uma baixa de cerca de 1% dos juros da dívida portuguesa, descolando Portugal do desastre irlandês. Voltam agora os comentadores, os que exigiam coragem para com os mercados, a dizer que afinal o défice pouco importa, o que é decisivo é evitar a recessão e garantir o crescimento a longo prazo.

Exatamente porque "há vida para além do défice", o que está em causa com a estratégia de consolidação acelerada decidida em Maio é demonstrar em 2011 um ritmo de redução do défice superior ao da França ou Espanha para rapidamente recuperarmos a autonomia para definir as prioridades de política económica. Importa discutir o modelo económico a longo prazo, padrões de equidade desejados, papel da educação e saúde para o milagre do desenvolvimento humano do regime democrático (mortalidade infantil e escolarização). É absurdo discutir investimentos que mudam o padrão territorial e de competitividade, como o porto de Sines ou a alta velocidade ferroviária, ao sabor das oscilações da taxa de juro ou do PSI 20. Existem profundas diferenças entre um modelo em que as políticas públicas são centrais para a igualdade de oportunidades, a coesão social e territorial e o pretenso primado da liberdade de escolha da cartilha da nova direita acentuando desigualdades e condenando os pobres a um ensino e saúde de filhos de deuses menores.
Cabe à esquerda parlamentar e sindical escolher entre o contrapoder ou contribuir para um modelo útil que permita consolidar a sustentabilidade do nosso modelo social. Será possível um consenso progressista sobre o papel do Estado após a sua fulgurante reaparição em 2008 para salvar as nações do desvario da especulação financeira e imobiliária? As três últimas décadas não são propícias a esperanças sobre o papel do PCP ou do BE.

Quanto ao novo PSD, tolhido pelo frenesim partidário de curto prazo que levou Passos Coelho a falar demais durante o Verão, vive dias penosos de ajustamento à realidade, percebendo que sem OE aprovado não teria futuro viável, face ao colapso do financiamento da economia, para sequer apresentar o seu modelo liberal de rutura com o consenso de matriz social-democrata em que vivemos desde o final do PREC.


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Coragem em tempo de crise - Eduardo Cabrita - Setúbal na Rede

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Coragem em tempo de crise - Eduardo Cabrita - Setúbal na Rede


O Orçamento do Estado apresentado sexta-feira é o documento que incorpora as opções mais dramáticas de política económica a tomar em Portugal desde que aderimos à então CEE pela mão de Mário Soares.
Foi importante para Portugal fazer parte do núcleo fundador do euro mas tal obriga-nos a partilhar das opções tomadas num espaço monetário unificado. As instituições financeiras de raiz anglo-saxónica sempre olharam com desconfiança para o euro e o Reino Unido nunca admitiu abdicar da sua libra.
A crise de 2008, a maior das economias desenvolvidas desde 1929, resultou do desvario da especulação financeira e imobiliária e obrigou os Estados a intervir para evitar o colapso das economias perante o desabar dos mercados de capitais. Na Europa todos os países ultrapassaram o défice de 3% e a Holanda, a Irlanda ou o Reino Unido tiveram de nacionalizar bancos.
Em 2010, uma nova vaga de irracionalidade dos mercados de capitais veio pôr em causa as emissões de dívida dos Estados a partir do risco de incumprimento de pagamentos pela Grécia ,sendo que a sra.Merkel levou três meses a reconhecer que tal colocaria em causa toda a zona euro, pelo que teria de ter uma resposta global. O défice português de 2009, após 2 anos abaixo dos 3%,resultou do efeito conjugado da queda brusca das receitas fiscais (cerca de 15%), do aumento das despesas sociais em resultado do aumento do desemprego e das medidas de apoio às famílias e às empresas.
A autocracia dos mercados levou para níveis incomportáveis os juros da dívida pública e pôs em causa o financiamento das empresas obrigando Portugal a um ritmo acelerado de consolidação orçamental que nos obriga a ter em 2011 um défice de 4.6%, claramente inferior ao de Espanha ou de França ,para descolar de países à beira do colapso como a Grécia ou a Irlanda.
 O que está em causa no OE/2011 é readquirir com a máxima urgência a autoridade para definir políticas em que a salvaguarda do modelo social assente na igualdade de oportunidades no acesso à educação e à saúde e no papel do investimento público na dinamização da economia sejam assumidos como prioridades.
O relançamento da economia portuguesa dependerá da dinâmica das exportações.A AutoEuropa , maior empresa exportadora do País ,e os portos de Sines e de Setúbal são decisivos para a retoma económica.
Já todos perceberam que a via da direita passa pelo desmantelamento da escola pública universal e gratuita e pela fragilização do SNS. Igualmente da aprovação do orçamento depende a centralidade dada à região pela terceira travessia do Tejo, não queremos   a alta velocidade só no Poçeirão ,e pela  ligação ferroviária para mercadorias entre Sines e o hinterland  ibérico. Ambos os projetos são expressamente assumidos pelo OE/2011 e a sua não aprovação poderia compromete-los irreversivelmente.
É por isso que forças com implantação na região como o PCP e o Bloco devem ser confrontados com a sua responsabilidade política. Não basta associar-se ao Governo  na abertura de escolas ou de creches e cantar hinos à Terceira Travessia do Tejo, têm o dever de contribuir utilmente para uma governação progressista do PS e evitar as derivas monetaristas e  antisociais  hoje largamente disseminadas nos nossos parceiros europeus.
Sem orçamento aprovado teríamos uma crise política até meio de2011 e um trágico agravamento da crise financeira com a inevitável sujeição a níveis  de juros irlandeses ou gregos.
Estamos em hora de consciência   dos sacrifícios e da determinação necessária a virar a página da crise financeira, é preciso não iludir as opções inevitáveis e a fazer as opções urgentes pela estabilidade política e credibilidade económica.

sábado, 16 de outubro de 2010

Intervalo (vamos fazer de conta que estamos em fds...)




Adoro ópera, companhia quer de longas viagens solitárias, quer de "saudosas" directas a acabar trabalhos, é mesmo a única coisa "trágico-depressiva" (?) que eu tolero sem alterar o ritmo cardiaco... noutras parece que entramos no domínio da fantasia...

Intervalo...




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Portagens nas SCUT





Debate sobre os projectos de lei do PCP e BE para revogação do decreto-lei que viabiliza a introdução de portagens nas SCUT - 14.10.2010

Intervenção de Ana Paula Vitorino, Grupo Parlamentar do Partido Socialista


Portagens nas SCUT

Debate dos Projectos de Lei do PCP e BE para revogação do DL 67-A/2010 que permite a introdução de portagens nas auto-estradas SCUT
Ana Paula Vitorino
14-10-2010

Senhor Presidente,
Senhoras e senhores Deputados,
Infelizmente temos hoje aqui nesta Assembleia mais um acto de demagogia pouco responsável por parte do PCP e do BE, como sempre no sentido de aumentar a despesa do Estado.
Não adianta pedir responsabilidade, nem importa que estejamos todos a prepararmo-nos para discutir e aprovar um OE 2011 de emergência nacional.
E, para além da maior crise financeira e económica do último século, PCP e BE esqueceram os princípios da mobilidade sustentável, esqueceram as recomendações de Quioto e pós-Quioto, ignoram os princípios da Política Comum de Transportes e aqui estão a defender a não introdução de portagens nas auto-estradas SCUT.
Quem sabe não os veremos ainda a defender a abolição de portagens em todas as auto-estradas ou mesmo o estacionamento gratuito e livre onde se quiser… E aí sim teríamos mesmo o primado do automóvel particular que, ficamos agora a saber, é defendido pelo PCP e pelo Bloco.
Para além da demagogia anti-portagens, diz ainda o PCP, em tom de crítica, que os descontos e isenções tornam obrigatório o uso dos dispositivos electrónicos de matrícula.
Francamente!
É claro que qualquer regime de descontos e isenções terá sempre que ser operacionalizado por via electrónica e com identificação da pessoa.
Primeiro porque o desconto ou isenção é para aquela pessoa e não outra. Não é uma coisa anónima. É porque o utilizador mora numa área objecto de discriminação positiva. Não é compatível, por um lado, ter descontos porque se mora num sítio e, por outro lado, não querer comprovar onde se mora. Como em tudo na vida não se pode ter o melhor dos mundos todos.
Segundo é uma questão de operacionalização. Para ser um pagamento expedito, rápido e compatível com o sistema instalado, tem que haver informação electrónica. Talvez o PCP pretendesse que os automobilistas andassem com um atestado de residência no bolso em formato de papel que mostrariam para a câmara quando passassem no pórtico!!!
E não se venha dizer que é uma baralhada, que ninguém sabe se está ou não isento. A lista dos Municípios onde existem isenções está publicada em Diário da República, para além de várias entidades estarem a transmitir esclarecimentos em larga escala.
E como pode o BE vir dizer que o Governo foge ao debate e ao contraditório?!
Este assunto já foi debatido até à exaustão nesta Assembleia. Aliás, foi a bem de um consenso que o Governo admitiu o princípio da universalidade na aplicação de portagens.
Foi exigência do PSD a aplicação do princípio do utilizador-pagador nas auto-estradas, daí resultando a cobrança de portagens em todas as SCUT.
E a diferença nas datas de início de cobrança vem apenas do facto de três já estarem prontas, daí o início amanhã, e as restantes necessitarem intervenções, e daí o início em 15 de Abril.
Mas o Governo impôs uma contrapartida. Admitiu o princípio da universalidade desde que fossem introduzidas medidas de discriminação positiva.
O regime de descontos e isenções é uma medida do Governo, de coesão e de protecção dos cidadãos e empresas das regiões atravessadas por estas auto-estradas e dos seus utilizadores frequentes.
E não diga o BE que o Governo não respeita as deliberações de Câmaras e Assembleias Municipais, maioritariamente do PSD contrariando a sua Direcção, nem os movimentos de utentes, ou que ignora decisões de tribunais.
Sabemos que foi interposta uma providência cautelar que foi aceite pelo Tribunal. Mas desenganem-se pois isso não constitui nenhuma avaliação do mérito da iniciativa. Aliás, o Governo irá fazer a declaração do interesse público o que elimina o seu efeito suspensivo.
Julgo que todos concordamos que seria muito mais simpático e acima de tudo politicamente mais cómodo esquecer de vez o assunto das portagens, assobiando para o ar como se nada se passasse.
Mas como podemos nós todos, deputados da Nação, ignorar o momento crítico em que nos encontramos. Vivemos a maior crise económica e financeira desde há décadas.
Estão em cima da mesa cortes de salários dos funcionários públicos, limitações das deduções fiscais na saúde e educação, congelamentos de pensões, aumento do IVA, cortes brutais no investimento público que seria necessário ao crescimento económico e social do País e alguns ainda acham que há espaço para não cobrar portagens em auto-estradas porque as alternativas são más.
Esta é uma das medidas de consolidação das finanças públicas consideradas no Programa de Estabilidade e Crescimento aprovado pela Comissão Europeia em 14 de Abril de 2010. Mas mais uma vez a oposição tenta impedir o Governo de governar.
Francamente Senhores Deputados, o que o País nos exige é responsabilidade, responsabilidade e responsabilidade e não demagogias e calculismos eleitorais.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tempo errado - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã




Devíamos estar agora a construir consensos sobre o Portugal de 2020. A definir as prioridades do modelo produtivo, as soluções para os investimentos estruturantes, os níveis de despesa social, os objetivos na educação e na saúde e a reorganizar de vez o Estado dando racionalidade à administração central e a coerência territorial prevista no PRACE. Mas estamos a navegar à vista na ressaca da maior crise global do capitalismo financeiro. Os mercados foram salvos em 2008 pelo odiado Estado que tomou no regaço bancos perdidos dos EUA à Islândia.

A crise dos anos 30 do século passado teve como resposta os autoritarismos nacionalistas e acabou na guerra mundial de 1939-45. Até ver, o custo vale a pena desde que repartido com justiça. Os mercados financeiros são pretensos deuses sem rosto, mais ingratos que escorpião, que se movem por causas ‘nobres’ como a remuneração dos acionistas ou a obtenção de prémios de gestão sem vergonha. A visão estratégica do analista de mercados não vai além das variações do PSI 20. É por isso natural ver um coro de entusiastas de economia do mar de estrategas de pacotilha que há dez anos chamavam megalómano ao projeto do porto de Sines e agora querem parar todo o investimento público. Sem ligação à rede ferroviária europeia de alta velocidade e sem linha para mercadorias entre Sines e o mercado ibérico não seremos competitivos nem como economia de praia...

A sra. Merkel levou três meses a perceber que a resposta à crise grega era a prova de vida do euro e ontem discordou da benevolência do FMI para com Atenas. É neste quadro que Portugal deve mostrar convicção na rápida recuperação do espaço negocial que nos permita dizer que a Europa do PEC é do crescimento e não só da ortodoxia da estabilidade. Será injusto, comparando com a tolerância com o casino irlandês, mas temos de mostrar capacidade de consolidação orçamental em 2011 para ter voz para contrariar o endeusamento de mitos sem racionalidade, como os 3% de défice que todos os países do euro violaram em 2009. Neste contexto, com a dívida pública a custar mais de 6% de juros, as análises de intriga partidária sobre quem teria vantagens políticas no chumbo do orçamento e em eleições nunca antes de Maio com orçamento lá para Outubro de 2011 é como jogar à cabra-cega à beira de uma arriba instável. Não sei quem seria primeiro-ministro a meio de 2011, mas não interessa muito, seria o gestor liquidatário dos destroços de um país sem rumo nem voz em tempo de tempestade.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

mudança de "cenário" ... (nova corrida, nova voltinha...)


Já ocupei vários lugares de destaque na minha vida e por isso já assisti em directo à quantidade de "amigos" que ganhamos (?) quando entramos, mais ou menos equivalente à que perdemos (que alívio!) quando saimos.

Com o País parece que se passa o mesmo, mas com efeitos por vezes diferidos e outras vezes com antecipações incompreensíveis. Sente-se no ar a mesma mudança de ventos e marés que se sentiu após as eleições para o Parlamento Europeu do ano passado.

De repente, em tudo quanto é forum ou congresso, disto ou daquilo, começaram a ressurgir as figuras alaranjadas do passado ou a tornarem-se habitués as novas estrelas fashion (ou cadentes?!) da constelação Passos Coelho.

Bem sei que todos se querem tornar íntimos, enquanto é tempo, de algum eventual futuro ministro da tão ansiada e precipitada putativa nova era governativa de derrapagem à direita. Vejam lá não vão enganar-se como no verão de 2009...

Mas deixem-me dar dois exemplos:

O primeiro respeita ao meu caro amigo António Nogueira Leite. E digo isto sem ironia pois é pessoa que sempre muito estimei. Desdobra-se em especialidades. Ora faz palestras sobre fiscalidade, o que é compreensível, ora surge, a convite, como o grande estratega de, pasme-se, logística em Portugal. Não é confusão. No Congresso da APLOG (Associação Portuguesa de Logística), que se realiza amanhã e depois, o António Nogueira Leite fará a sessão principal do Congresso. Ao Secretário de Estado dos Transportes disponibilizam tempo para dar umas palavrinhas na sessão de abertura. Em seguida, António Nogueira Leite, habitual porta-voz do PSD para as áreas económicas, dispõe de uma hora para dizer qual a estratégia económica para o sector nos próximos dez anos.

O segundo exemplo prende-se com a "Conferência Mar" patrocinada e anunciada sábado passado pelo Expresso. Aparentemente o critério de escolha dos oradores foi institucional, isto é, são maioritariamente os presidentes das entidades relacionadas com o sector. Mas não de todas. Existe uma excepção que é o Dr. Monteiro de Morais, identificado como ex-secretário de Estado (do PSD) do sector e ex-presidente dos portos de Sines e de Leixões. Claro está que o sector tem secretário de Estado (para além de vários ex... :) ) e existe uma presidente do porto de Sines e um presidente do porto de Leixões, por sinal ambos bastante competentes e respeitados por toda a comunidade portuária e empresarial.

Pois é ... aragens perversas ...

The show must go on ...

sábado, 9 de outubro de 2010

ventos de mudança por Lisboa

Em Lisboa sopraram ventos de mudança nas eleições para as estruturas federativas do Partido Socialista.

Parabéns ao Marcos Perestrello e à Teresa Damásio. Conquistam a liderança em tempos difíceis, esperando-se deles capacidade de ir à luta, mas também o bom senso e inteligência de unirem todas e todos em torno do projecto socialista.

Mas é também momento de agradecimento aos camaradas Joaquim Raposo e Jesuina Ribeiro pelo trabalho que desenvolveram ao longo dos últimos anos e pelas vitórias que ajudaram a conquistar.

A todos felicidades e saudações socialistas.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

é necessário que tudo mude para que tudo fique na mesma ...


Injustiça inevitável - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

 

Injustiça inevitável - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


No final do século passado, políticos com a grandeza de Mitterrand e de Kohl e uma Comissão liderada pelo visionário Delors decidiram criar o euro para dar uma dimensão global à economia europeia e incentivar a integração política. Os mercados financeiros, a imprensa anglo-saxã, a sra. Thatcher e os velhos do Restelo europeus não acreditavam que fosse possível abandonar o marco ou o franco nem que a nova moeda durasse mais do que um ano, dada a disparidade entre as economias e as reservas nacionais.
Para dar confiança aos mercados, foram criadas as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Por um lado, limites comuns para o défice público (3%), a dívida pública (60%) e a inflação (2%), por outro, fundos de coesão, para apoiar o desenvolvimento dos países mais pobres. A violação dos critérios seria aceite em caso de crise económica ou necessidade de acelerar o crescimento. Os analistas não acreditavam que Portugal fosse aceite no euro mas Guterres e Sousa Franco conseguiram, sem as dívidas superiores ao PIB, como na Bélgica ou na Itália, ou à pouca credibilidade das contas gregas.
Até 2008, o euro foi um sucesso global, rivalizando com o dólar. A crise originada pela especulação financeira e imobiliária provocou, pela primeira vez, um desequilíbrio simultâneo em todos os países do euro. A causa foi a limitação dos efeitos da crise e a salvação do sistema financeiro, até com nacionalizações de bancos na Irlanda, Holanda ou Reino Unido. A atual Europa é liderada por uma maioria de governos liberais ou conservadores dependentes de públicos desconfiados do projeto europeu ou apoiados por partidos de extrema-direita antieuropeia. O Tratado de Lisboa está a ser corporizado por figuras medíocres como Rompuy ou Ashton e assistimos à vingança dos mercados, que nunca quiseram nem euro, nem União Europeia. Portugal precisa de Estabilidade financeira e Crescimento. Seria desejável uma redução suave do défice até 2014, com investimento público e crescimento. Não aldrabamos as contas como a direita grega fez nem temos um défice de 32% para salvar bancos falidos como o ex-modelo irlandês - mas sem nós a expressão PIGS não fazia sentido na imprensa paga em dólares ou libras...
Teixeira dos Santos provou ser capaz em 2007/08. Temos de provar em 2011 estar à altura destas medidas injustas e potencialmente recessivas para recuperarmos o caminho da Europa da coesão e do desenvolvimento livre de visões de curto prazo de uma chanceler menor criada na ex-RDA.



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A hora da maturidade - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

A hora da maturidade - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


O sistema semipresidencial, assente na legitimidade da eleição direta e no poder de dissolver o parlamento, está baseado na convivência com governos emergentes de um sistema eleitoral que dificulta a formação de maiorias absolutas. Em dez anos, Eanes conviveu com nove governos, um socialista minoritário, a que sucederam três de iniciativa presidencial e cinco de coligação com maiorias, que nunca completaram a legislatura.
O fracasso do PRD e a canibalização do CDS por Cavaco Silva alteraram a perceção do sistema, transformando a maioria absoluta num sonho realizável.
Guterres, que colocou Portugal no euro e teve as maiores taxas de crescimento com justiça social, soçobrou, qual Ícaro político, à angústia de ter ficado tão perto da mítica maioria ("um pouco mais de sol eu era além" para citar o Sá Carneiro poeta...). A maioria absoluta de Sócrates foi um notável golpe de asa, fruto da conjugação da frescura reformista com laivos de terceira via, que alargou o PS ao centro com o grau zero da "má moeda" política representado por Santana Lopes. O renascimento do CDS, a emergência do BE, esse partido de classe média urbana erigido sobre as ruínas de grupúsculos de extrema-esquerda, e a resiliência histórica do PCP trouxeram Portugal de volta às origens do seu sistema constitucional destinado a repartir o poder .
Na maioria dos países europeus, com exceção da França entre os grandes da União Europeia, existem governos de coligação ou assentes numa intensa negociação parlamentar de orçamentos e leis estruturantes (agora até no Reino Unido). A atual situação de emergência financeira que Portugal enfrenta obriga a que a segunda geração da nossa democracia dê provas de maturidade. Governar é a arte da mobilização inteligente dos setores mais inovadores de um povo tão dado a sentimentos depressivos.
Chegar a acordos claros não é sinal de fraqueza, mas sim de capacidade de liderança e de partilha de responsabilidades. Mais do que um orçamento indispensável para reconquistarmos a liberdade de escolha perante a autocracia dos mercados, cabe a Sócrates provar que a esquerda pode governar sem maioria absoluta e a Passos Coelho demonstrar que não será mais um fogacho, o quinto, de uma direita que não vive sem poder. Senão, a irresponsabilidade económica devorará toda a incapacidade política...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"TGV e políticas das grandes obras"



Debate de urgência, requerido pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, sobre "TGV e políticas das grandes obras" - 24.09.2010
Intervenção da Deputada Ana Paula Vitorino, Grupo Parlamentar do partido Socialista

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Desafios do Milénio - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

Desafios do Milénio - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


Enquanto Portugal assiste a um crescendo de tensão pouco racional antecedendo a apresentação do Orçamento para 2011, as Nações Unidas fazem esta semana uma cimeira de balanço dos Objetivos do Milénio, aprovados em 2000 para serem atingidos até 2015. É chocante a diferença de mundos em que coabitamos no mesmo planeta.
Portugal vive a saída da maior crise global num ambiente de revanchismo ideológico relativamente aos maiores sucessos da nossa democracia - o aumento da justiça social que permitiu notáveis sucessos na saúde (mais baixa mortalidade infantil que os EUA ou liderança mundial nos transplantes de rins) e na educação (erradicação do analfabetismo nas novas gerações e frequência do pré-escolar superior à média da OCDE). Foi esta a opção de três décadas de democracia e não a livre escolha para os que têm recursos aumentando as desigualdades. Para a ONU, os desafios reais são reduzir para metade até 2015 as pessoas com fome e os que vivem com menos de um dólar por dia, garantir a escolaridade básica, começar a reduzir as vítimas da sida, malária e tuberculose e garantir o acesso de todos a água potável.
Os resultados até 2008 eram encorajadores. Baixou em 400 milhões os que vivem com menos de um dólar por dia, atingiu-se 89% de frequência da escola nos países mais pobres, a mortalidade infantil baixou 28%. A crise mundial veio travar esta mudança. Calcula-se que 830 milhões tenham fome em 2010, ultrapassando os 817 milhões de 1990. É este escândalo global que exige resposta imediata dos beneficiários da globalização. Houve progressos na redução da pobreza na China ou no Brasil ou pequenos ovos de Colombo, como o programa de fornecimento de mosquiteiros que reduziu as vítimas da malária em S. Tomé. Entre os lusófonos, Cabo Verde é um exemplo de sucesso no combate à pobreza e Moçambique tem feito progressos na literacia e na saúde, o que torna ainda mais vergonhosa a situação de Angola, onde mais de metade da população não sabe ler nem tem água potável.
Portugal tem de ser solidário no plano mundial e estabelecer os seus Desafios do Milénio com um consenso alargado até 2020 (qualificação das pessoas, metas ambientais e criação de emprego) abandonando um debate menor sobre décimas da execução orçamental. É desastroso para o nosso futuro num mundo em crise que a resposta dos portugueses à necessidade de mudar de vida e ter objetivos a longo prazo tenha sido um aumento de 40% das venda de automóveis, 30% nos novos telemóveis e de 22% novos cartões de crédito. Só temos um país para mudar, só temos um planeta para salvar.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Competitividade - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

Competitividade - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã


Segundo a revista ‘Forbes', Portugal é em 2010 o 24º melhor país do mundo para fazer negócios (o que compara com o 27º do Japão, o 33º da Espanha ou o 63º da Grécia...) mas a fragilidade do sistema educativo é o maior obstáculo para o aumento da produtividade e o crescimento da economia. Na semana passada, o Fórum Económico Mundial dava-nos o 46º lugar no ranking da competitividade (entre a Espanha e a Itália mas muito longe da Grécia), mas apontava entre os maiores problemas a burocracia e o funcionamento da justiça . Destacava como positiva a saúde (8ª mais baixa mortalidade infantil), a qualidade das estradas (8º), a celeridade para iniciar um negócio (13º - efeito da Empresa na Hora) ou o uso de novas tecnologias pela administração pública (17º).
Estes indicadores demonstram que o crescimento e a competitividade exigem uma guerra cultural à burocracia, divulgando e alargando as boas práticas, como o cartão do cidadão ou as declarações eletrónicas, e um consenso alargado sobre a aposta na educação e na qualificação ao longo da vida. Como os países nórdicos demonstram, a competitividade é reforçada com a aposta na educação e saúde de qualidade como bens públicos de acesso universal. Em 1974, apenas 8,3% das crianças frequentavam o pré-escolar e 5% dos jovens o ensino secundário. A paixão de Guterres levou aos jardins de infância 71% das crianças em 2000 e este ano ultrapassamos os 80%. No ensino secundário, só em 2007 a frequência ultrapassou os 60%. O programa Novas Oportunidades, o alargamento para 12 anos da escolaridade obrigatória e a aposta no ensino superior pós-laboral são batalhas de uma longa guerra pelo conhecimento destacada pela OCDE.O início do ano escolar foi marcado pelas centenas de novos centros escolares, para fazer esquecer as indignas escolas do antigamente, pelo envolvimento ativo das autarquias na gestão do ensino básico e pelo aumento das vagas no superior, mesmo em Medicina, apesar das resistências da Ordem dos médicos instalados.
Na burocracia, o licenciamento zero das atividades económicas é um novo marco da guerra contra a corrupção e a prepotência dos pequenos poderes. É em torno dos sucessos e dos bloqueios de hoje que se devem definir as novas ambições para maior competitividade com justiça social. As sondagens já provaram que a quezília constitucional contra as políticas de coesão não dão saúde nem longa vida à desorientada liderança do PSD que bem precisa destes meses de limbo presidencial para repensar prioridades e olhar para a um futuro competitivo para lá da consolidação orçamental.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Além do Orçamento - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

Além do Orçamento - Eduardo Cabrita - Correio da Manhã

A vida de uma família, comunidade ou país pode ser vista, pensada ou sonhada a vários ritmos e tempos. O tempo da política, dos poderosos mercados financeiros ou dos media é cada vez mais marcado pela ditadura do momento, pela ansiedade do byte e pela excitação do último escândalo público. A consequência é a autofagia do quotidiano, a falta de distanciamento e estratégia.
Amanhã será 9 de Setembro, dia mítico descoberto por Passos Coelho numa noite quente de Quarteira como limite para apresentação das linhas gerais do Orçamento enquanto o PR ainda poderia dissolver o Parlamento. O alvo da ameaça é errado (amanhã nada muda nos poderes do Governo mas sim do Presidente em fim de mandato), a substância pobre (os limites às deduções fiscais eram previstos no PEC viabilizado pelo PSD em Março) e, como Cavaco Silva lembrou, o Orçamento é apresentado a 15 de Outubro.
Depois do anúncio da proposta de revisão constitucional, foi o segundo passo em falso da nova liderança do PSD, dividida entre a avidez de poder a qualquer custo e as agruras da estratégia a médio ou longo prazo. Os portugueses são propensos à depressão e crise de confiança, mas o mérito de três décadas de democracia foi transformar Portugal num dos 38 países de muito alto desenvolvimento humano. É nos indicadores sociais que mudamos profundamente - a esperança de vida passou de 68 anos em 1975 para 78.6, a mortalidade infantil baixou de 53 por cada mil em 1970 para menos de 4 e o analfabetismo de 30 para 5%. O nosso IDH em 1970 correspondia ao atual da Tunísia e a mortalidade infantil à da Índia. Foi este o caminho do modelo social português que temos de considerar quando se fazem comentários apressados sobre o SNS ou a universalização da escola pública.
Hoje temos de discutir como adequar eficiência no uso dos recursos, promoção da competitividade e crescimento a regras partilhadas por países com a mesma moeda e sem fronteiras mas com diferentes níveis de crescimento. O próximo Orçamento é uma versão anualizada do PEC, que só entrou em vigor em Julho. A equação difícil que vale a pena discutir é qual a dose certa de austeridade que dê fibra e credibilidade à economia sem voltar a pôr o doente em coma recessivo. Para isso é preciso saber como chegamos ao atual nível de desenvolvimento social e definir objetivos a longo prazo, a discutir depois de amanhã, superando exaltações de Verão de lideranças adolescentes com naturais crises de afirmação.